20090527

Frases soltas

Paulo Coelho conta:...

»Caminho com meu editor americano e sua mulher, num parque. Podemos ver a cidade de San Francisco ao longe, iluminada pelo sol poente. Sharon escreveu um livro sobre um mosteiro beneditino, e conta que as orações da tarde, chamadas "vésperas", são cantos de esperança pela certeza de que a noite passará. "As vésperas indicam-nos a necessidade que temos de nos aproximar do outro, quando a noite chega", diz ela. "A nossa sociedade preza muito a capacidade que cada um tem de lidar com as próprias dificuldades. Este individualismo leva ao desespero e solidão. Fingimos que não nos importamos com a atenção dos outros, mas basta um gesto de carinho, e a nossa pose de herói cai por terra". "Não tenho medo de depender do próximo: ele também está a precisar de mim."«

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»Não se esqueça que as vezes é preciso parar. Ou os pés ficam feridos, a mente se distrai, e o cansaço empobrece a Busca. A tradição académica tem o "Ano Sabático"; a cada sete anos de trabalho, o professor passa um ano longe da Universidade. Ao sair da rotina, ele abre espaço para novos conhecimentos. Na antiguidade, os camponeses dividiam as sua terra em sete terrenos: a cada ano, um deles ficava abandonado, sem produzir nada. Ali cresciam ervas daninhas, mato, tudo que a natureza tivesse vontade de produzir sem interferência do homem. Desta maneira a a terra se revigorava e era capaz de, no ano seguinte, aceitar a semente do agricultor. Quem não pára por livre vontade, termina sendo paralisado pela vida. Na Busca, como em tudo o mais, a acção e a inacção tem a mesma importância.«

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»Santo Agostinho escreveu que, da mesma maneira que uma cidade precisa de leis para que os seus habitantes possam viver juntos, o homem precisa de uma única lei - o Amor - para conviver em paz com o mundo espiritual. Outras pessoas falaram sobre esta verdade universal: "O verdadeiro amor não pede recompensa, mas merece uma" (São Bernardo de Claivaux)."O amor é Deus; e a morte significa que uma gota deste amor deve retornar a sua fonte" (Tolstoi). "As verdades de amor são como o oceano: transparentes apenas nos lugares superficiais" (Patmore). "Quanto mais amamos alguém, mais penetramos nos mistérios de todos" (Jalal-Ud-Dim). "Onde existe a possibilidade de ódio, existe também a possibilidade de amor; basta fazer uma escolha" (Tillich).«

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»Judith considera-se cheia de defeitos e decide melhorar. Mas não é sua Lenda Pessoal (o seu desejo) que a empurra neste sentido, mas a Sociedade diz que existe um padrão de crescimento, que é preciso atingir. No final do ano, Judith faz uma lista de decisões para o ano seguinte. Os primeiros dias de janeiro são fáceis; ela obedece a lista, dá passos que sempre adiou. Em fevereiro, já não tem a mesma disposição, e a lista começa a falhar. Quando março chega, Judith já quebrou todas as promessas feitas no Ano Novo; e irá sentir-se pequena, incapaz, e culpada até a última semana do ano. Quando, enfim, esta semana chega, ela faz de novo as promessas, e o ritual se repete.Não devemos tentar melhorar naquilo que os outros esperam de nós, Judith; mas descobrir o que esperamos de nós mesmos. Aí nem é preciso prometer nada, porque mudamos com prazer e alegria.«

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